A professora de judô do Colégio Sion do Rio de Janeiro (Sion-RJ), Nilza Maria Guimarães da Silva, foi recentemente graduada à faixa vermelha e branca – 6º Dan. Por meio da entrevista a seguir, Nilza, que ficou 20 anos na faixa preta, compartilhou conosco o sentimento de gratidão pelo reconhecimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), da Federação de Judô do estado do Rio de Janeiro (FJERJ) e de Sion-RJ. A treinadora revelou ainda os motivos pelos quais o judô é tido como uma atividade física educadora.
1 – Como se dá o sentimento de conquistar a faixa faixa vermelha e branca, depois de tantos anos dedicados ao judô?
O sentimento da conquista é muito glorificante. No judô, há um tempo de carência necessário para a conquista de cada faixa, o qual aumenta conforme a ordem crescente das graduações. Eu fiquei 20 na faixa preta. O reconhecimento de todo o meu esforço e trabalho por parte da CBJ, da FJERJ e de Sion deixa a minha felicidade ainda completa. O judô e Sion fazem parte de mim, fazem parte da minha família. Meu marido, que também é professor de Sion, Ney Wilson Pereira da Silva, é faixa vermelha e branca – 7º Dan. Meus dois filhos, Bruna, que é administradora de empresas, e Ney Junior, economista, são faixas preta. Casei-me na igreja do Colégio Sion do Rio de Janeiro e meus filhos estudaram aqui desde os 2 anos. Ambos praticaram judô na escola. Foi meu marido quem amarrou minha nova graduação em minha cintura e meus filhos e neto estavam presentes na cerimônia oficial. Estou muito feliz e fiz questão de partilhar simbolicamente esse sentimento com as crianças da escola. No dojo de Sion, meu marido fez novamente a entrega da nova faixa e depois o batizado foi uma queda. Os alunos tiveram a oportunidade de perceber visualmente esta conquista, a qual foi a mim possibilitada por meio da dedicação e da disciplina.
2 – Por que o Judo é constantemente associado à disciplina?
O próprio fundador desta arte marcial, o Mestre Jigoro Kano, era pedagogo. Ele, quando criou a atividade, avaliou a necessidade de um esporte completo, que integrasse prática física e educação. No judô há regras. E, como sabemos, regras são requisito para a formação de sujeitos preparados para a vida. O judô trouxe para a minha família, uma filosofia de vida, o respeito, a disciplina, a solidariedade e a humildade. De mesmo modo, tais sentimentos e valores são inseridos nos praticantes da arte marcial aqui na escola. Muito mais do que ensinar golpes e posições marciais, buscamos fortalecer a relação de amizade entres os alunos, entre pais e filhos, e desenvolver importantes princípios formativos nas crianças para que, ao atingirem a adolescência, estejam com os verdadeiros valores humanos internalizados dentro delas.
3 – Quais benefícios têm as crianças que praticam o judô?
O Judô apresenta filosofia voltada ao bem estar físico, mental e social. Trata-se de um esporte individual, mas precisa de mais um para se desenvolver. Por exemplo, no futebol, a bola é o instrumento da prática, enquanto que no judô, o instrumento é o outro ser. Daí vem a concepção de valorização e cuidado constantemente com o colega. As crianças que fazem judô tendem a ser mais obedientes e companheiras, tornando-se assim melhores ouvintes e pessoas mais disciplinadas. No dojo, não incentivamos a rivalidade entra as crianças. Igualmente, pais e mães não devem cobrar altos desempenhos de seus filhos, durante os torneios ou campeonatos que participam. O encorajamento é dado a partir da importância de participação na competição, tido como mais importante do que o próprio resultado da luta. Dessa forma, estimulamos nos alunos o interesse pela competição sadia.
4 – Pais e mães de crianças que apresentam muita energia, geralmente, tendem a matriculá-las no judô. Você considera esta prática como assertiva? No entanto, essa mesma concepção é adotada pelos responsáveis que consideram seus filhos muito introvertidos. Como você explica esse fato?
Inúmeras são as razões que conduzem a criança à prática do judô. Elas podem ser atraídas pelos amigos ou por indicação médica com objetivo de reverter algum quadro clínico neurológico ou mesmo por parte de pais que percebem características comportamentais em seus filhos, como a agressividade ou timidez exacerbadas. Nesse sentido, a filosofia do judô possibilita canalizar esses dois pontos extremos para o equilíbrio. O judô é uma arte marcial que prioriza o trabalho em grupo. Por isso, as crianças desenvolvem concepções que as possibilitam vencer a timidez e melhorar os relacionamentos. Correlativamente, o judô desenvolve habilidades físicas e capacidades específicas nos alunos. Sabemos que, normalmente, crianças detentoras do domínio corporal, garantem melhor qualidade motora, assim como, as que descobrem suas habilidades corpóreas, melhoram a sua auto-estima e sua auto-confiança. E, ainda, como consequência, tais resultados são refletidos positivamente no rendimento escolar. Por esses motivos, o judô é uma das atividades mais reconhecidas nas áreas educacionais e de formação do ser.