No dia 2 de maio de 2017, o Colégio Sion do Rio de Janeiro (Sion-RJ) realizou evento com formato de mesa redonda, destinado aos alunos do Ensino Médio (EM), com a presença da psicóloga Monica Raoulf El Beyeh, especialista nas áreas de depressão e suicídio, e escritora do jornal Extra Online.
A psicóloga utilizou a dinâmica de passar uma caixinha para depósito de perguntas, sem a necessidade de identificação. Os jovens de Sion participaram ativamente e refletiram sobre algumas das motivações que levam as pessoas a casos extremos, como o de tirar a própria vida. A necessidade de identificação do quadro clínico e de pedir ajuda diante das angústias, além de novas oportunidades e formas de viver, foram outros temas abordados.
Por meio da entrevista especial com a coordenadora educacional do EM, Denise Pina, você poderá entender mais sobre este assunto, visto ainda como um tabu para muititas pessoas. Confira a seguir!
Qual é o papel da escola na formação dos alunos em relação aos assuntos depressão e suicídio?
D.P.: Nós, educadores, devemos acompanhar o desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos alunos dentro do espaço escolar. É preciso falar de forma responsável sobre assuntos como estes, que muitas vezes são negados pelos familiares. Trata-se de um aspecto cultural, dado que o suicídio, historicamente, sempre foi um assunto muito velado. Nosso papel é interagir e entender como crianças e jovens estão percebendo o mundo em torno deles próprios. Por isso, é necessário que conversemos com eles abertamente. Ouvi-los, é importantíssimo. A depressão é uma doença. Precisa ser identificada e tratada o quanto antes. Por esses motivos, quando reconhecemos os sintomas em um aluno, contatamos a família e indicamos profissionais especialistas capazes de ajudar. É preciso apontar para o adolescente sintomático a importância de tentar um novo caminho em sua vida.
Quais são os sinais dados pelos alunos em relação a tais sintomas?
D.P.: São várias as formas existentes de se perceber. Na maioria dos casos, alunos com sintomas depressivos apresentam um “olhar distante”. Às vezes a própria forma de se vestir e o mal cuidado com o corpo podem ser sintomas da doença. O silêncio, o isolamento, comentários negativos e choros constantes, além de notas baixas, também são aspectos reveladores.
A cada instante surge uma nova forma de manifestação da depressão por parte dos adolescentes. Já teve o jogo do desmaio, cortes no corpo e, recentemente, o jogo do suicídio. Devido a quais motivos, estes comportamentos estão sendo diagnosticados nos jovens e crianças desta geração?
D.P.: A adolescência sempre foi a idade da descoberta, da ousadia, da experimentação e dos desafios em grupos. Se o jovem não foi emocionalmente preparado para esta fase da vida dele, a adolescência poderá representar um momento delicado, e mesmo de riscos. Até então, os adultos das famílias, de forma geral, não eram tão distantes dos adolescentes. Além do pai e da mãe, os avós, vizinhos e tios vivenciavam esta fase juntamente a eles. Com o advento das novas tecnologias e o novo cenário social, onde as pessoas recebem cada vez mais informações e se mostram progressivamente mais individualistas e sem tempo para o próximo, essa geração de adolescentes ganhou uma maior “liberdade de viver” e ficaram, portanto, sem o acompanhamento adequado. Eles revelam sentirem-se sozinhos. Acredito que a internet possibilita a disseminação de tais ideias entre eles, o que favorece um comportamento semelhante porque se sentem de mesmo modo e desejam, igualmente, expressar suas emoções.
Como o evento realizado pelo colégio para os jovens do EM, com a presença de uma psicóloga especialista nestes assuntos tão delicados, contribui para a formação dos jovens de Sion?
D.P.: Nós propiciamos um espaço para o diálogo. Como eu disse, é preciso encarar esta situação de forma responsável. A psicóloga utilizou uma caixa para depósito de perguntas sem a necessidade deles se identificarem. Neste momento, algumas das perguntas foram “O que fazer quando um amigo está em depressão e diz que vai suicidar?”, “O que é a depressão?” e “Minha família não acredita que eu estou deprimido, como devo fazer para ela acreditar em mim?” Foi muito importante, para eles, ter aquele momento destinado à troca de experiências. Eles puderam falar sobre o que estão sentindo e refletir junto com seus pares. Ter a possibilidade de conversar com profissionais especializados é mais do que uma oportunidade, significa aprendizagem, e de forma segura. Foi uma forma muito significativa de conhecer mais sobre o assunto. Certamente, levarão esta aprendizagem com eles para toda a vida.